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EM CIMA
DA HORA

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G.R.E.S.

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FICHA TÉCNICA

Presidente: Alvaro Lopes
Fundação: 15 de Novembro de 1959
Títulos: -
Cores: Azul e Branco
Carnavalesco: Rodrigo Almeida
Diretor de Carnaval: Thiago Gomes e Rafael Marques
Diretor de Harmonia: Jurandir Baptista
Intérprete: Charles Silva
Comissão de Frente: Luciana Yegros e  Carlos Aleixo
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Marlon Flôres e Winnie Lopes
Mestre de Bateria: Leo Capoeira
Rainha de Bateria: Heather Anchieta
Rei de Bateria:
Jorge Amarelloh

ENREDO

"Ópera dos Terreiros - O Canto do
Encanto da Alma Brasileira"

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SINOPSE

Argumento

A realidade pungente em nosso país a respeito do preconceito racial, é ainda uma ferida intensamente viva, expondo o que há de mais desumano e irracional na humanidade, e por consequência, corrobora na desigualdade, no ódio e na intolerância. Tão dura e cruel realidade não conseguiu apagar por completo a ascendência e a identidade dos povos que foram sequestrados de sua terra, separados da sua gente, da sua família e de tudo mais que os dignificavam. E, ainda que aportando nestas terras como escravizados, buscaram construir meios e formas de permanecerem ligados a sua origem, a sua essência, transcendendo à dor e ao sofrimento, em nome da sua verdadeira ancestralidade.

Reconstruir uma genealogia cultural que mantivesse ligações com sua terra natal ainda é tarefa que perdura desde a longa travessia entre a África e o Brasil. Mesmo à revelia das dores e limitações que os envolveram, eles assim o fizeram. Cantaram seus cantos de fé, dançaram para seus santos, irmanaram-se, lutaram por liberdade, assentaram seus terreiros, criaram ritmos e laços de irmandade, construíram pontes através da arte e da cultura, buscaram seus espaços, firmaram seu ponto, fizeram-se luz onde havia ignorância e fé a quem temesse por justiça.

Trazer para o palco do carnaval o enredo sobre a Ópera dos Terreiros é fazer jus a toda jornada do povo preto, partindo da primazia do pertencimento e da ancestralidade, que ganham novas formas de demonstração e que vão conquistando novos espaços e palcos através da arte, como o canto erudito e operístico. Isso enaltece os distintos povos que para cá vieram para além dos Bantos e Nagôs. E reforça as infinitas possibilidades de que o negro, com sua cultura, pode chegar a lugares inimagináveis no Brasil e no mundo.

A Ópera dos Terreiros é o ponto de partida para uma reconexão ancestral pelo prisma da cultura e da fé, genuinamente alicerçada em Salvador, na Bahia de todos os santos, casa primeira, terra primeira fora do seu habitat. Com toda a resistência e com todo o axé, construíram o seu espaço de pertencimento, seus costumes e sua forma de ser no mundo. Com sua identidade e empoderamento preto, fazem-se presentes, tornando protagonistas em todos os terreiros em que vier a pisar, gestando, assim como representado na ópera, os filhos seus, um Brasil do futuro. Um novo Brasil. Um Brasil novo!

Salve o canto negro para além da dor e do sofrimento!
Abram-se os caminhos para o canto negro passar!

Justificativa

O carnaval e as escolas de samba possuem entre muitas funções o papel de mantenedoras e produtoras de cultura. E sua cultura é negra por essência. Sua matriz é africana e porque não dizer, baiana também.

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora traz para o seu carnaval a Ópera dos Terreiros, obra pertencente ao roll de espetáculos do Núcleo de Ópera da Bahia, instituição que promove a representação da cultura negra em sua ancestralidade dando o protagonismo aos seus atores/cantores, contribuindo para o descortinar de histórias que guardam signos sagrados e transmitem a essência de um povo.

A união entre o erudito e o popular não é em si uma novidade, mas rara de se vê quando a ênfase se dá na negritude, a africanidade, na construção do saber cultural do negro em todos os espaços. Soma-se a esse fator a importante contribuição dos povos pretos à formação cultural do Brasil, com suas religiões, costumes, língua, saberes e personalidades.

Adentrar o universo operístico sob a luz da Ópera do Terreiros é considerar o que veio antes, desde a diáspora africana, sua resistência, a manutenção dos saberes e das coisas transcendentais que abriram caminhos e aos poucos ganharam espaços até então impossíveis de se alcançar. Reverenciamos, assim, todos os que construíram, lutaram e se dignificaram na transmissão dos saberes, tornando possível o alastramento dessa negritude fortificada no Brasil, mais precisamente, em Salvador. Onde a África é mais baiana. Onde a identidade molda e determina o ser negro.

É função cultural e ancestral abrir caminhos, lançar luz e ampliar os horizontes para que esta obra alcance ainda mais terreiros pelo mundo afora, como já vem conquistando. Emocionando a quem a vê e a quem a ouve, transmutando a realidade que se esperava em nome de um futuro cada vez mais justo e livre como sempre deveria ter sido.

SINOPSE

Cena 1

Brasil, Fruto do amor dos filhos da antiga África

Que cantado em ária, rememora seu passado
Tornando latente o desejo de um futuro melhor.
Brasil, vive a recontar inúmeras histórias pelas ruas e ladeiras de Salvador
Nos portais da cidade quem o ouve, transporta-se para os portais do Benim
Seguem rumo a uma nova terra num completo desconhecido
Navegam pelo impetuoso mar de Olokun
Revivendo tormentos que destruíram sonhos, aflorando muitos medos
Onde naufragaram inúmeras histórias, restando apenas esperança.
Mas hoje, Brasil não veio contar sobre a dor
Mesmo latente e ainda presente
Ele veio contar sobre os povos trazidos da terra mãe
Resgatando todos aqueles que assumiram o compromisso de perpetuar sua história
Suas raízes e seus ancestrais.
Aqueles que trouxeram os signos que permeiam o seu sagrado e sua identidade
E que chegando à baía que aportaram primeiro, onde todos os santos os receberam
Guardaram consigo os mistérios, os encantamentos e seus saberes transcendentais.​

Cena 2

Água de cheiro. Banho de arruda. Axé em templo sagrado
Terreiros firmados, há séculos são avistados e visitados
É canto, é dança, é fundamento
Ao sabor das memórias que percorreram o oceano que os separou.
Vem de Jeje, Ketu, Banto e Nagô
Na roça que bate o ponto
Maxicongo é Bate Folha de Congo e Angola.
Sejam inquices, voduns ou entidades, filhos de todos os santos
Se espalham, multiplicam e renovam sua ancestralidade
Desde a Casa Branca ao Gantois
Entre ladeiras, encruzas e matas
É o sagrado assentado e firmado, legado da nossa história.
É tempo de bater cabeça, tomar a benção e se curar.
Salve as mães baianas que iniciadas iaôs um dia foram
Salve todas elas que abençoam toda gente com seu banho de fé.
Mulheres que foram resistência e se tornaram essenciais.
Matriarcas! Mães de santo! Fonte dos saberes e dos cultos!
O elo na gira perfeita que no tempo se sente o que não se vê.

​Cena 3

Na energia que emana a vibração, o Maculelê é a batida que ressoa no tempo
Tocando o passado no nascer de novos ritmos
Faz surgir samba de roda no Recôncavo, reconvexo no alcance que se tem
Na batida do tambor, ogãs dão o tom
Capoeira é sinônimo de luta ao toque do berimbau
Que encanta a quem o ouve e o vê
E vai Brasil, banhado no axé de outrora
Vem mostrar que o canto desta cidade também é seu.
Ao saírem dos terreiros emanando todo o seu axé
Blocos afro e de afoxés tomam as ruas com sua sonoridade
A sacudir, a abalar, fluindo a baianidade que faz sua gira no carnaval.
Num ato de resistência, em busca de sua essência
Brasil sobe a ladeira do Curuzu
E se põe a ecoar por toda a cidade que “a coisa mais linda de se vê é o Ilê Aiyê”
No Muzenza e no Malê Debalê se renovam a negritude
Como num levante a determinar seus espaços em nome da liberdade.
Pelo ritmo do afoxé dos filhos da paz, Salvador ganhou as telas e os livros
É festa de preto. É toque preto timbaleiro que sacode o mundo inteiro
E traz cacique afro metalizado, afrofuturismo invadindo a tradição.
Olodum, o quilombo dos ritmos sincopados
Contam histórias que não se podia contar sobre muitos lugares
Negro era rei e também divindade. Negro era o Faraó.
– Eu falei, Faraó!
Seu esquema mitológico ecoou nos quatro cantos do mundo
Coroando com turbantes os súditos de Tutankhamon
Signos mantenedores de uma ancestralidade viva! Transcendental.
No Cortejo Afro, Brasil se viu representado
Eis a Bahia que povo branco se rendeu…
Alicerçado e fortalecido pelos que vieram primeiro
Brasil, em sua “Roma Negra”, valoriza seus saberes, comungando de todas as artes
Transvestido de sua história que determina tudo o que foi e o que virá
Alimentando a todos com sua genuína identidade
Na capital que é patrimônio ancestral e que o mundo vem conhecer
Pelourinho se transforma em cartão postal
Quilombo que se materializa, força que sintetiza a luta secular por liberdade.

Cena 4

Vem chegando a negritude que dá a volta no mundo e vê o mundo girar.
Onde o amor é sempre azul
Infinito como o mar de Olokun.

Esta é a terra que o canto negro tem vez e voz. Mas que continua a lutar.
Sua ópera negra, entidade que fortalece um laço universal de união
Fomenta a negritude cultural na cidade mais africana além de África.
Nesta ópera principal, Brasil é o fruto do amor
Banto é Nkosi, Oxum é Nagô
Entre cantos e encantos, eles se enamoram em meio a conflitos
Exu abre os caminhos e rearruma os seus propósitos
Iansã faz o vento dançar pro amor acontecer
A senhora do tempo ensina que destino é coisa certa, não se pode mudar.
O amor que é banto se vai, a morte o encontrou
A filha de Oxum que fica, lamenta sua dor
Em seu canto, tal qual uma prece, sente nova vida chegar
Seu filho Brasil está prestes a nascer.
Sua trajetória se torna estandarte em prol da negritude
No panteão negro que se reconstruiu ao longo de toda sua história
Nos laços que se firmaram entre os terreiros que viraram ópera
E a ópera que se tornou terreiro também!!
Com o renovar de consciência ganhando forma
Sendo a liberdade sua fonte de inspiração
Alcança novos portos, adentrando ou rompendo outros portais
Onde o povo preto é o protagonista e se mantém ancestral
Para além dos que um dia foram tratados como senzala
E transcende a tudo o que um dia lhe fora negado
Mas que agora vem encantar o mundo
Com sua arte, sua raça, seu canto e sua cor.
E vai o Brasil
Cantando em ária sua ancestralidade
Como fruto do amor dos filhos da Antiga e da “nova” África
Rememorando seu passado, na construção de um mundo melhor!

Argumento: Anderclébio Macêdo e Rodrigo Almeida
Texto e pesquisa: Anderclébio Macêdo

SAMBA-ENREDO

Compositores:  Caxias Gilmar / Guilherme Karraz / Marcio de Deus / Marquinhos Beija-Flor / Orlando Ambrosio / Serginho Rocco / Richard Valença / Bruno Dallari / Pedro Poeta / Lucas Pizzinatto / Guto Melcher / Marcelinho Santos / Viny Machado / Jacopetti / Guinho Dito
Intérprete: Charles Silva

Tambor quando toca é voz de orixá
É feitiço de Ilá, ô ô
Tambor quando toca é voz de orixá
Se a pele arrepiar, incorporou
A mensagem de Exu na Bahia (ê Bahia)
Na travessia do brado de nosso axé
Encruza das ondas e alforrias
Ergueu a luta do meu candomblé

Maré que me leva, encontro das almas
A dor que se acalma, o grito aflito
É verso escrito entre Ayê e Orum
É choro incontido ao toque do rum

Maré que me leva, encontro das almas
No couro, nas palmas, no chão do terreiro
O som brasileiro na pele e na cor
O afro erudito em Bantu e Nagô

Sou eu, a mistura da fé africana
A paixão que venceu a demanda
Onde o povo retinto uniu
Eis o meu nome assentado em terras de paz
Onde reinam os meus orixás
Eu me chamo Ilê Brasil
Quando ronca som do couro
A mandinga do chão de crioulo
Se faz cantoria de axé
E a rua se torna um só carnaval
Nossa ópera é ritual
Pra louvar o seu candomblé

Alabê chamou, e eu não vou embora
A magia do preto, Em Cima da Hora
Segura o corpo que eu quero ver
Quando a força do cangerê
For poder de romper aurora

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