
ARRANCO

G.R.E.S.

FICHA TÉCNICA
Presidente: Tatiana Santos
Fundação: 21 de Março de 1973
Títulos: -
Cores: Azul e Branco
Carnavalesca: Annik Salmon
Diretores de Carnaval: Alex Sandro, Múcio Travesso, Michel Porto e Cosme Márcio
Diretores de Harmonia: Comissão de Harmonia
Intérpretes: Pamela Falcão e Thiago Acacio
Comissão de Frente: Lipe Rodrigues e Márcio Dellawegah
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Diogo Falcão e Laryssa Victória
Mestre de Bateria: Mestre Gilmar
Rainha de Bateria: Giselle Farias
ENREDO

"Mães que alimentam o sagrado"
SINOPSE
“Òrìsa bi ìyá kòsí
Òrìsa bi ìyá s’òwón”
“Orixá igual mãe não existe
Orixá igual mãe é raro”
(Dito Yorubá)
“Èṣù ṣí ọ̀nà fún ìyá”
Exú abre os caminhos para a mãe.
Ancestralidade
No princípio, Obìnrin, te perguntaram o que tu sabias ser, respondeste: ìfẹ̀. E seguiste no mundo sendo mulher, guardando o mistério da vida, cabaça capaz de gerar. De ti, cheia de afeto, também vem o primeiro alimento, sagrado dom: mu ọmú.
No continente ancestral, mãe África, o festival Gẹ̀lẹ̀dẹ̀ é uma celebração aos teus dons. Ọkúnrin mascara seu rosto e despe seu corpo da masculinidade para fazer festa em louvor as grandes senhoras mães.
Yèyé é senhora dos oceanos, mãe dos filhos gerados e contidos em suas águas. Dona de Orí, ventre dos Òriṣà, foi a senhora Ìyá que guiou seus filhos pela grande encruzilhada: dos mares até esta terra.
Mas não só Yemanjá é Ìya. Aqui nesse chão, seus filhos fazem ṣiré para louvar as òriṣà mães: Ọ̀ṣùn, Ọya, Ọbà, Yewá, Nàná e Yemọja. Para elas são oferecidas comidas feitas pelas mãos da Ìyágbásé, cargo de prestígio no terreiro, exercido na cozinha, lugar de Mímọ̀sínú. Cozinhar é domínio santo feminino, sem comida não há òriṣà. Alimentar o terreiro é também cultuar os deuses e os antepassados.
Pluralidade
Fora do terreiro, a fé de Obìnrin move o mundo. A Mãe Baiana faz feijoada no dia de Jorge guerreiro, ao som de agogô, repique, tamborim, surdo e pandeiro, pedindo força para enfrentar os dragões de todo dia.
Mãe sempre roga a mãe, confia na Senhora Advogada. Ìyá com fé faz Angu para a Senhora do Rosário, pede por seus filhos, na prece ao som da congada para a mãe que olha pelos pretos. Com fé vai à beira-mar em procissão, pedir à Senhora dos Navegantes para cuidar dos seus, na ida e na volta. Segurança e boa pesca, alimento e fartura.
Mulher do Tacacá ocupa a rua todo dia para vender a iguaria. Na festa da Mãe Nazaré olha com fé as romeiras e os romeiros que passam segurando a corda da Senhora. Mãe no Brasil acredita nas origens dessa terra. Confia na fé de Iaçã, a indígena que abraçou o sofrimento de perder a filha para descobrir a palmeira do Açaí, fruto que alimentou sua aldeia.
Terra de Fé esse Brasil... A raiz indígena do nosso solo, chamada “Pão da Nossa Terra”, conhecida por diversos outros nomes, alimenta tanta gente. Conta a lenda originária que a mandioca nasceu da tristeza da mãe de Mani em meio a perda de sua filha, do seu choro velado na oca, nasce a Mani-oca – Mandioca.
É lá na Bahia de São Salvador onde os filhos e filhas dessas mães saem em dia de Carnaval, ao toque do Ìjẹ̀ṣà, oferecendo pàdé para Bara, em celebração à vida que vem dessas Ìyá.
Por todo o Brasil se faz festa e quando chega o mês de junho não há como esquecer os meninos do sertão: Antônio, João e Pedro. Aos três santos as mães cozinham diversas iguarias com o milho, herança indígena, alimento que fortalece o corpo e cura o espírito.
Brasil das mães guerreiras, benzedeiras, mandingueiras que saúdam a vida aos pés do umbuzeiro, a árvore da esperança. A crença delas em dias melhores guia sua busca por uma vida mais próspera. Mulheres que pedem com fé são atendidas. Súplica de mãe é sempre concedida.
Resistência
Mãe que ara a terra, planta sementes e colhe não só os frutos e verduras, colhe esperança. Ganha a vida vendendo na feira, trocando no mercado e sorrindo em casa. Não desiste de manter seus filhos saudáveis, mesmo quando a esperança do alimento vem daquilo em que ninguém vê beleza.
Mulher que luta para não sucumbir ao enlatado, não comer o processado, não deixar de ser rainha, não perder o poder da cozinha. Comida de mãe é sagrada, saudável, temperada com amor. Cozinha é lugar de mistério e poder, onde toda mulher pode ser.
Mãe que é chefe de família, é empreendedora, doméstica, batalhadora, que garante o sustento sem perder a alegria. Abdica de si para cuidar dos filhos, dos pais e da casa. Não perde a esperança de um mundo mais justo. Está sempre disposta a ajudar. Caridade na língua é palavra feminina.
Mulher que chora pela terra, que preserva para ela seguir saudável para o plantio. Sempre preocupada com o futuro, se pergunta diariamente: A terra seguirá alimentando? Ela precisa mesmo de um cuidado materno.
Mãe é a fonte do primeiro alimento: amamenta e acalenta. Mas a mulher só precisa ser mãe se quiser. Escolha que merece respeito. Muitas não podem gerar uma vida, mas também são mães. Outras não têm útero para gerar, mas também são mães. O amor delas é herdado da ancestralidade. Elas zelam pelos seus com sensibilidade, carinho e afeto. Amor de mãe é dedicação, é fé e é força!
Mulheres que elegeram a Missão da maternidade, outras foram mães pelo acaso, pelo destino, ou pela simples falta do direito de escolha. Mas a maternidade precisa ser pensada com as suas glórias e complexidades: ser mãe é difícil.
Mães, abraçadas pelo Falcão que as cobre com um manto de amor que as faz Senhoras. Todas podem ser Ìyá. Na Obìnrin habita também o segredo de cuidar, alimentar e proteger. Mesmo diante das adversidades, parte delas adquirem com o tempo a sabedoria e o discernimento para seguir nessa jornada.
Mulheres do Arranco, unidas nas alegrias e nas angústias, seguem de mãos dadas fazendo circular uma poderosa energia que sustenta o “Chão do Nosso Terreiro”, o Engenho de Dentro, alimentando com esperança o seu sagrado: a fé e a família.
Carnavalesca: Annik Salmon
Texto: Annik Salmon e Artur Vinícius Amaro
Pesquisa: Annik Salmon e Artur Vinícius Amaro
SAMBA-ENREDO
Compositores: Nego Vinny / Jr Fionda / Cláudio Russo / Vando Cardoso / Gabriel Sorriso / Manolo
Intérpretes: Pamela Falcão e Thiago Acacio
Criadora e criação
A sublime perfeição ôô
A luz de Obinrin
Orixá assim é raro
É Iyá que tem o faro
Pra amar depois do fim
A senhora do segredo
Do feitiço e do tempero
Sua força é Gueledé
E na grande encruzilhada
Oceano foi estrada
Sem perder a sua fé
Quero bênção de mainha
Milagrosa benzedeira
Yabassé rege a cozinha
Ganha a rua quituteira
Ijexá, pão da terra é padê
Se o pedido vem do ventre, só a fé vai conceber
Ara! Que teu seio tem fulgor
E semeia de amor pela forma mais perfeita
Rega pelas lágrimas de Deus
Cada um dos filhos teus
A paixão pela colheita
Embala eu mamãe
Teu colo é chão onde eu quero morar
Assim a nova mátria nascerá
Entregue a elas o poder
Rogai por nós!
Santa dos altares e terreiros
Maria, me envolva em teu manto
Ó mãe preta do Arranco!
É samba de Yaô, na curimba de mulher
Quem não pode com mandinga, não carrega meu axé
Tenho sangue de rainha, que o sagrado alimenta
Yalorixá que homem nenhum enfrenta
